Renata Ribeiro
São Paulo, SP
“Não gosto, mas o que eu vou fazer? Quando fala em meter a mão no bolso, atrapalha tudo, é muito desagradável, mas eu vou fazer o quê?”, diz Walter Taverna, dono do restaurante. Não é nenhum crime, é legítima defesa. Walter compra 50 caixas de tomate por mês, e, como todo mundo, viu o preço disparar. A alta bateu quase 150% nos últimos 12 meses no país.
Seguimos pistas atrás da explicação. No Ceagesp, grande parte dos restaurantes da cidade vão abastecer a dispensa, comprar os ingredientes. “Está bom o preço para o produtor. No ano passado, eles perderam muito dinheiro, daí não plantaram tanto, e aí quem plantou está vendendo muito caro”, explica o produtor Orlando Glauser.
A 120 quilômetros da capital, a cidade de Sumaré se prepara pra começar a colheita. A equipe de reportagem seguiu um produtor, dono de uma área de 12 mil hectares. Debaixo de sol forte, Gerson Cesar Stein explica que, na verdade, o tomate foi vítima do clima, que castigou a plantação.
“Foi um calor muito forte em fevereiro e muita chuva em março. Perde a coloração vermelha e começa a ficar um pouco amarelado, e madura miúdo, porque madura no calor da temperatura, não no seu ciclo normal da cultura. Aí a chuva vem e acaba manchando outra parte, que a dona de casa está reclamando da qualidade na gôndola“, conta Stein.
Parte do mistério, a plantação desvenda. No ano passado, um pé rendia 10 kg de fruto maduro. Este ano, vai render, no máximo, 6. Tomate graúdo é coisa rara de ver. A maioria está menor. Essa é a maior evidência de queda de produtividade.
Ainda assim, o produtor está ganhando. Gerson viu o faturamento se multiplicar. “A intenção é pagar o custo dessa e recuperar o prejuízo do ano passado, para a gente conseguir estabelecer a cultura ainda”, diz.
Costuma ser assim no agronegócio. Alguns anos favorecem o produtor. Outros, o consumidor. O comportamento dos preços de produtos agrícolas é cíclico. Dispara quando falta produto, mantém-se no ano seguinte e despenca quando sobra produto. Ao longo do tempo, lembra uma teia, e tende chegar ao equilíbrio.
Na estrada, ainda pesou o frete pressionado pela alta do diesel e pela mudança na jornada dos caminhoneiros. A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thais Zara, explica que o tomate é só o molho da inflação, essa sim, a criminosa da história.
“O tomate acaba ganhando expressividade por ter sido uma alta muito forte, por ser um produto bastante popular, mas a gente tem um processo inflacionário bastante complicado, bastante disseminado. O índice de dispersão bastante elevado, próximo dos 75%, sinaliza que 34 dos itens pesquisados pelo IBGE deve mostrar uma alta, vai muito além do que apenas o tomate”, afirma Zara.
Fonte: G1
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